quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A GENÉTICA DO POVO PORTUGUÊS II

As linhagens do adn do cromossoma Y em Portugal.

O que significa este mapa?


O mapa representa os haplogrupos mais frequentes, dominantes, em cada país.
É fácil ver que há duas linhagem principais na Europa: o haplogrupo R1b na Europa Ocidental e o haplogrupo R1a na Europa de Leste. Nos países nórdicos domina a linhagem do I1 e nos paises balcânicos, com exclusão da Grécia e da Albânia, é a linhagem I2 a mais frequente. O haplogrupo N mostra-nos a origem fino-úgrica dos finlandeses e dos povos dos países bálticos. A Albânia e a Grécia são os únicos que parecem ter ido buscar a sua linhagem mais frequente fora da Europa, pois é o haplogrupo E que aí domina. O grupo E é o haplogrupo mais frequente no Norte de África.
No mapa também vemos que a Turquia e os países do Médio Oriente pertencem ao grupo J.
Por fim, a linhagem G encontra-se espalhada por toda a Europa, mas apenas é dominante na Geórgia.

Portugal, como se pode ver, integra-se perfeitamente nos países da Europa Ocidental, uma vez que aproximadamente 57% dos homens portugueses têm um cromossoma Y que pertence ao Haplogrupo (Hg) R1b.
O Hg R1b é mais comum na Irlanda e no País Basco, onde atinge frequências à volta dos 80%. Em Portugal, o R1b é ligeiramente mais comum no norte do que no sul.
Apesar de ser o mais comum, não será o mais antigo em Portugal, nem sequer na Europa. Antes o Hg I terá dominado a Europa do Paleolítico e depois recuou perante a chegada de agricultores, que trouxeram outras linhagens. O Hg I recuou e apenas manteve o domínio nos paises nórdicos e nos países balcânicos (cada qual tem agora o seu próprio tipo de Hg I).
Ainda não se sabe com segurança se o R1b veio para Portugal com a agricultura ou mais tarde, na Idade dos metais; mas foi sempre antes do período celta. Noutro post hei-de abordar com mais pormenor a questão das origens do R1b. O certo é que os homens R1b vieram substituir em grande medida os homens com as linhagens primitivas.

Mas se 57% dos homens portugueses têm o Hg R1b, há uns 43% de homens portugueses com outras linhagens.
Os vários estudos dão números que diferem um pouco entre si. Juntando os dados de vários estudos, chegamos a números que serão bastante aproximados da realidade. Assim, os haplogrupos de YDNA em Portugal dividem-se pelas seguintes percentagens:
R1b....... 57
E1b....... 14
J2.......... 9
G.......... 6,5
I1/I2b..... 5
J1.......... 3
T........... 2,5
I2.......... 1,5
R1a........ 1,5

Destaca-se, em segundo lugar, o grupo E1b. Como disse acima, o grupo E é mais comum no Norte de África. O E1b é particularmente dominante no noroeste africano. A primeira ideia que surge é que esta linhagem veio com a invasão muçulamana da península, mas não é uma ideia correcta. Na verdade, a maioria desta linhagem terá chegado cá em tempos ancestrais – no paleolítico ou nos primeiros tempos da introdução da agricultura. É por isso que, ao contrário do que seria de esperar, esta linhagem é mais comum no norte de Portugal e na Galiza do que no sul.
Se juntarmos as linhagens J1, J2, G e T, todas vindas do Médio Oriente, temos uma percentagem de mais de 20%; superior, portanto, à E1b. Uma parcela destas linhagens terá chegado com a expansão da agricultura, mas uma grande parte ter-se-à fixado aqui no período de dominação muçulmana. Estas linhagens são mais comuns no sul do que no norte de Portugal.
Com 5% temos os haplogrupos I1 e I2b, ambos nordico-germânicos.
Mais residuais são os grupos I2a e R1a. Este mais estabelecido no leste da Europa e portanto a sua percentagem coincide com a distância geográfica. O I2a, um pouco mais próximo geograficamente, também não conseguiu manter-se em número significativo.
De um modo geral e em conclusão, o adn do cromossoma Y, em Portugal, integra-se perfeitamente na região onde se encontra Portugal – a Europa Ocidental – com a alta prevalência do Hg R1b. Não surpreende uma percentagem significativa de uma linhagem norte-africana – Hg E1b – embora seja mais inesperado o facto de ela ser ancestral e não estar ligada ao domínio muçulmano. Já as linhagens do Médio Oriente chegaram cá, primeiro com o advento da agricultura e depois com o domínio muçulmano. Todas elas estão também presentes noutros países europeus, aonde chegaram com a agricultura, e onde, por vezes, se encontram em maiores percentagens do que em Portugal. As linhagens germânicas – I1 e I2b – terão chegado com as invasões germânicas e, eventualmente, em período anterior à dominação romana.

No próximo post vamos ver a composição do povo português no que respeita ao adn mitocondrial.

2 comentários:

  1. Acho a ideia do seu blog interessante. Fiz o meu primeiro teste genético em 2006 e desde então já fiz tudo o que há para fazer, incluindo sequência completa do MtDNA e Big Y. Os meus haplogrupos são H5a2 e R1b DF27 respectivamente. Gostaria imenso de saber o que pensa sobre a origem do DF27 em Portugal e na Península Ibérica. Vejo várias opiniões contraditórias e poucos estudos detalhados.

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  2. Obrigado!
    Para realmente ter uma opinião sobre o DF27 é preciso resolver o problema de saber quando o R1b chegou à Ibéria - no neolítico ou na idade dos metais.
    Portanto, neste momento só posso dar-lhe a minha intuição: poderá ter surgido localmente e as sua distribuição parece ter alguma relação com a distribuição dos MtDNA H1 e H3. Talvez tenha participado na expansão da cultura Bell Beaker.
    Ajudava muito ter uma datação segura do momento em que se deu a mutação do DF27...

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