quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A GENÉTICA DO POVO PORTUGUÊS I

Nos últimos 20 anos os testes genéticos têm vindo a tornar-se mais abrangentes, mais rápidos e mais baratos. A evolução tem sido tal que hoje está ao alcance de qualquer pessoa (e da maioria dos bolsos) fazer um teste genético, sequenciando uma boa parte do seu genoma. As bases de dados genéticos têm crescido de modo espantoso. Isto permite que, actualmente, se possa fazer uma caracterização genética das diversas populações humanas, em particular das europeias – que têm sido as mais estudadas.
É já possível fazer uma caracterização geral da genética do povo português, das suas origens e de como ela se compara em relação a outros povos. É essa caracterização que vou tentar fazer nas diversas partes deste post. Desde já fica o aviso de que a noção de povo português, para este efeito, considera apenas indíviduos 100% portugueses de 3ª ou 4ª geração (todos os avós ou todos os visavós portugueses) e apenas aqueles que sejam caucasóides (brancos). São critérios que podem ser criticados, mas utilizo-os porque são aqueles que têm sido usados nos estudos científicos.


Para perceber a minha descrição da genética portuguesa é preciso conhecer primeiro algumas noções simples e as suas consequência, que passo a explicar sucintamente.
Vamos dividir o adn de uma pessoa em três tipos: o adn autossómico, que é o adn que determina as nossas características biológicas (como seja o aspecto físico); o adn sexual, constituído pelos cromossomas X e Y e o adn mitocondrial, que regula a produção de energia no interior das células.
Faço esta divisão porque cada um destes tipos de adn dá-nos um tipo de informação diferente sobre a nossa genética e as suas origens. O adn autossómico é aquele que realmente queremos conhecer, pois é ele que contém as informações que determinam o funcionamento do nosso organismo e do nosso aspecto físico (fenótipo). O problema é que é dificil extrair informação deste tipo de adn, para poder caracterizar uma população ou para determinar a sua origem. Isto é assim porque, por um lado, ele sofre recombinação – digamos que é baralhado e reorganizado quando se gera a pessoa – e, por outro lado, se é fácil encontrar diferenças entre a genética de duas pessoas, é bem mais dificil encontrar diferenças entre grupos ou populações. Hei-de explicar isto melhor quando descrever o adn autossómico português. Quanto ao adn mitocrondrial e ao cromossoma Y do adn sexual, as coisas são muito mais fáceis.
O nosso adn mitocondrial é herdado exlcusivamente do lado materno da família. Ele é, salvo a ocorrência de alguma mutação, exactamente igual ao da nossa mãe. Isto dá-nos uma linhagem femenina que podemos traçar até milhares de anos atrás.
O adn do cromossoma Y é herdado exclusivamente do lado masculino, sendo idêntico de pai para filho. Do mesmo modo que no adn mitocondrial, com o adn do cromossoma Y é possível traçar a linhagem masculina de uma pessoa milhares de anos para trás.
As linhagens mitcondriais e do cromossoma Y estão divididas em Haplogrupos (Hg). Cada haplogrupo é desginado por uma letra maiúscula (p.ex. R) e quando ocorre uma mutação dentro do haplogrupo, é-lhe atribuído um número (p. ex. R1, R2 e assim por diante). Quando dentro de cada um destes subgrupos ocorre uma outra mutação, acrescenta-se uma letra minúscula (p.ex. R1a, R1b, etc.) Como é possível datar esta mutações, podemos saber como nos integramos em cada grupo al longo do tempo.



Vamos então começar por ver quais são as linhagens masculinas (Hg Ydna) existentes em Portugal, o que faremos já no próximo post.

7 comentários:

  1. Então como se pode fazer um estudo completo da linhagem de uma determinada família , a partir desse gráfico?

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  2. Então é aconselhável , para se ter uma linhagem de mil anos, se começar pelo lado da mãe biológica. Foi isso que entendi? E quando a maioria dos parentes (mãe, avós, bisavós, forem já falecidos?).

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  3. Se o que pretende é fazer a sua genealogia, os haplogrupos só podem ser utilizados por comparação com outras pessoas que tenham o mesmo haplogrupos e a aprtir daí tentar determinar qual seja o antepassado comum. A informação fornecida pelos haplogrupos é mais útil para tentar descobrir as migrações dos povos ao longo do tempo e eventuais afinadades entre populações.
    O ADN mitocondrial permite apenas seguir a linhagem materna. Como as mulheres não têm cromossoma Y, elas não podem seguir a sua linhagem masculina, exceto se o pai ou um irmão testarem o ADN do cromossoma Y.
    Não sei se respondi às suas dúvidas...

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  4. Esse foi meu pensamento, descobrir as migrações , até chegar aos dias de hoje. Um trabalho pelo visto longo, mas ao final gratificante, ao meu ver.
    Mesmo sendo por parte de mãe, saberemos, por onde andaram , mas de onde tudo começou. Se de Portugal (Lamego) ou da Espanha ( Galícia).
    Minius tenho muito o que aprender consigo. E que sirva a outras pessoas também.
    Obrigada desde já.

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  5. Não tem que agradecer. É um prazer.
    Um dia vai ser possível descobrir todas essas migrações..., mas ainda vai ser preciso esperar uns quantos anos! É uma investigação ainda na sua infância.

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  6. Bom dia e os meus sinceros parabéns pela informação aqui expressa.
    Se me fosse permitido, gostava de saber um pouco mais do significado dos meus haplogrupos, determinados no âmbito do projecto da National Geographic (Genographica):

    - Masculino (pai): R-P310;
    - Feminino (mãe): U3a1.

    Muito obrigado, atentamente,

    Jorge Jesus

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    1. Obrigado. Fico muito contente que tenha achado interessante. É uma pena não ter tido tempo para publicar outros texto que estava a preparar; e como esta área está sempre a actualizar-se...
      Quanto à sua questão, posso adiantar-lhe o seguinte:
      O R-P310 está integrado no haplogrupo R1b, pelo que faz parte da maioria em Portugal. A sua mutação P310 está associada à L11, pelo que se procurar informação sobre o R-L11, obterá resultados que se aplicam a si. O interessante do R-P310/L11 é que é comum a toda a Europa Central e Ocidental e antepassado dos subgrupos que definem cada região.
      O haplogrupo U3 tem maior concentração no Médio Oriente e a sua presença na Europa provavelmente deve-se à expansão da agricultura, no neolítico, e a outros contactos posteriores. O seu subgrupo, U3a1, parece ser exclusivo da Europa, o que faz concluir que é bastante antigo e, por isso, estará associado à expansão de agricultores neolíticos e não a contactos posteriores, no tempo do império romano ou da invasão mulçulmana.
      Espero ter-lhe dito algo de novo. Se vier a encontrar mais informação sobre os seus haplogrupos, esteja à vontade para a partilhar aqui.
      Cumprimentos.

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