A
GENÉTICA DO POVO PORTUGUÊS II
As
linhagens do adn do cromossoma Y em Portugal.
O
que significa este mapa?
O
mapa representa os haplogrupos mais frequentes, dominantes, em cada
país.
É
fácil ver que há duas linhagem principais na Europa: o haplogrupo
R1b
na Europa Ocidental
e o haplogrupo R1a
na Europa de Leste.
Nos países nórdicos domina a linhagem do I1 e nos paises
balcânicos, com exclusão da Grécia e da Albânia, é a linhagem I2
a mais frequente. O haplogrupo N mostra-nos a origem fino-úgrica dos
finlandeses e dos povos dos países bálticos. A Albânia e a Grécia
são os únicos que parecem ter ido buscar a sua linhagem mais
frequente fora da Europa, pois é o haplogrupo E que aí domina. O
grupo E é o haplogrupo mais frequente no Norte de África.
No
mapa também vemos que a Turquia e os países do Médio Oriente
pertencem ao grupo J.
Por
fim, a linhagem G encontra-se espalhada por toda a Europa, mas apenas
é dominante na Geórgia.
Portugal,
como se pode ver, integra-se perfeitamente nos países da Europa
Ocidental, uma vez que aproximadamente
57% dos homens portugueses têm
um cromossoma Y que pertence ao Haplogrupo
(Hg) R1b.
O
Hg R1b é mais comum na Irlanda e no País Basco, onde atinge
frequências à volta dos 80%. Em
Portugal, o R1b é ligeiramente mais comum no norte do que no sul.
Apesar
de ser o mais comum, não será o mais antigo em Portugal, nem sequer
na Europa. Antes o Hg I terá dominado a Europa do Paleolítico e
depois recuou perante a chegada de agricultores, que trouxeram outras
linhagens. O Hg I recuou e apenas manteve o domínio nos paises
nórdicos e nos países balcânicos (cada qual tem agora o seu
próprio tipo de Hg I).
Ainda
não se sabe com segurança se o R1b veio para Portugal com a
agricultura ou mais tarde, na Idade dos metais; mas foi sempre antes
do período celta. Noutro post
hei-de abordar com mais pormenor a questão das origens do R1b. O
certo é que os homens R1b vieram substituir em grande medida os
homens com as linhagens primitivas.
Mas
se 57% dos homens portugueses têm o Hg R1b, há
uns 43% de homens portugueses com outras linhagens.
Os
vários estudos dão números que diferem um pouco entre si. Juntando
os dados de vários estudos, chegamos a números que serão bastante
aproximados da realidade. Assim, os haplogrupos de YDNA em Portugal
dividem-se pelas seguintes percentagens:
R1b.......
57
E1b.......
14
J2..........
9
G..........
6,5
I1/I2b.....
5
J1..........
3
T...........
2,5
I2..........
1,5
R1a........
1,5
Destaca-se,
em segundo lugar, o grupo E1b.
Como disse acima, o grupo E é mais comum no Norte de África. O E1b
é particularmente dominante no noroeste africano. A primeira ideia
que surge é que esta linhagem veio com a invasão muçulamana da
península, mas não é uma ideia correcta. Na verdade, a maioria
desta linhagem terá chegado cá em tempos ancestrais – no
paleolítico ou nos primeiros tempos da introdução da agricultura.
É por isso que, ao contrário do que seria de esperar, esta
linhagem é mais comum no norte de Portugal e na Galiza do que no
sul.
Se
juntarmos as linhagens J1, J2, G e T, todas vindas do Médio Oriente,
temos uma percentagem de mais de 20%; superior, portanto, à E1b. Uma
parcela destas linhagens terá chegado com a expansão da
agricultura, mas uma grande parte ter-se-à fixado aqui no período
de dominação muçulmana. Estas linhagens são mais comuns no sul do
que no norte de Portugal.
Com
5% temos os haplogrupos I1 e I2b, ambos nordico-germânicos.
Mais
residuais são os grupos I2a e R1a. Este mais estabelecido no leste
da Europa e portanto a sua percentagem coincide com a distância
geográfica. O I2a, um pouco mais próximo geograficamente, também
não conseguiu manter-se em número significativo.
De
um modo geral e em conclusão, o adn do cromossoma Y, em Portugal,
integra-se perfeitamente na região onde se encontra Portugal – a Europa Ocidental – com a alta prevalência do Hg R1b. Não
surpreende uma percentagem significativa de uma linhagem
norte-africana – Hg E1b – embora seja mais inesperado o facto de
ela ser ancestral e não estar ligada ao domínio muçulmano. Já as
linhagens do Médio Oriente chegaram cá, primeiro com o advento da
agricultura e depois com o domínio muçulmano. Todas elas estão
também presentes noutros países europeus, aonde chegaram com a
agricultura, e onde, por vezes, se encontram em maiores percentagens do
que em Portugal. As linhagens germânicas – I1 e I2b – terão
chegado com as invasões germânicas e, eventualmente, em período
anterior à dominação romana.
No
próximo post
vamos ver a composição do povo português no que respeita ao adn
mitocondrial.