A
GENÉTICA DO POVO PORTUGUÊS III
O
ADN mitocondrial (MTDNA) em Portugal – a linhagem feminina.
Os
haplogrupos de ADN mitocondrial têm uma distribuição geográfica
mais difusa, alargada e variada. Se as linhagens masculinas trazidas
por um grupo dominante tendem a substituir as linhagens autóctones,
porque os homens autóctones, ao serem vistos como uma ameaça, são
mortos ou escravizados, não lhe sendo permitido ter descendência; o
mesmo não acontece com as mulheres. Assim, as linhagens femininas
tendem a subreviver e coexistir com as linhagens invasoras.
Em Portugal como no resto da Europa, há mais haplogrupos de MTDNA do
que de YDNA. Os principais haplogrupos das linhagens femininas em
Portugal distribuem-se pelas seguintes percentagens:
- HU4+U5JLT2K448,26,86,46,36,1
Claramente
destaca-se, a larga distância de todos os outros, o Hg H. Este
haplogrupo é dominante em todos os países europeus e ainda em
Marrocos e na Argélia. Também é dos mais comuns nos restantes
países do Norte de África e do Médio Oriente. Por enquanto não há
certeza sobre a sua origem. Estava presente na Europa já durante o
paleolítico, mas em percentagens reduzidas – o Hg U5 era dominante
na Europa, naquele tempo. O Hg H começou a tornar-se mais comum
durante o neolítico e acabou dominante em toda a Europa durante a
Idade dos metais.
Interessante
para a genética portuguesa é o facto de que uma das expansões do
Hg H na Europa deu-se com a expansão da cultura do vaso campaniforme
(Bell-Beaker Culture – BBC). Esta cultura teve origem na
estremadura portuguesa, o que leva a concluir que muito do Hg H
existente na Europa teve origem em Portugal e espalhou-se pela Europa
há 4500 anos atrás.
As
maiores frequências de Hg H encontram-se na Ibéria, na França
Ocidental, nas Ilhas Britânicas e nos países esdinavos.
A
seguir vem o conjunto de haplogrupos U5 e U4. Particulamente o U5 era
o Hg mais comum na Europa do paleolítico. A chegada da agricultura
modificou bastante a situação, pois se estes Hg são comuns em toda
a Europa, ainda assim difilmente ultrapassam os 20% e tal só
acontece nos extremos do Norte da Europa e do Báltico; onde o
influxo de populações neolíticas (agricultoras) foi menos intenso.
O
Hg T2 também parece estar cá presente desde o paleolítico. Na
Ibéria parece ser um pouco mais frequente no Algarve e na região de
Aragão.
Os
Hg J e K parecem ter vindo com a expansão da agricultura, trazida
por povos do Médio Oriente.
Finalmente,
o Hg L deverá a sua presença aos invasores muçulmanos. Em Marrocos
é quase tão frequente como o Hg H. Na Ibéria atinge os 7,5% na
Andaluzia e pode chegar aos 11% no Algarve. No entanto, nota-se uma
diferença significativa entre Portugal e Espanha. Se o Hg L chega a
6,4% em Portugal, na Espanha a sua frequência global é de 2,4%.
Como se explica tal diferença? Os diferentes tamanhos e geografias
de Espanha e Portugal podem dar alguma explicação. O facto de a
Espanha abranger a maior parte do terço norte da Peninsula Ibérica
é muito relevante. Ainda assim, não podemos ter a certeza que isto
explique totalmente a diferença encontrada. Será talvez mais
simples admitir que parte desta diferença se deve a uma origem
subsariana (África Negra) de parte do Hg L; que teria entrado em
Portugal também através das escravas africanas que se sabe terem
sido trazidas para cá. Ter a certeza está ao alcance da tecnologia
existente. É preciso fazer um estudo dos subgrupos do Hg L em
Portugal, de modo a compará-los com os do Norte de Africa e da
África subsariana.
Em
conclusão, Portugal está “em sintonia” com a Europa, ao ter
como dominante o Hg H. Terá mesmo contribuido decisivamente para a
sua expansão na Europa, onde uma parte significativa do Hg H será
daqui originária.
Os
Europeu “originais”, paleolíticos estarão representados, entre
outros menos frequentes, pelos Hg U4, U5 e T2; numa percentagem
conjunta de uns 14,5%.
Os
neolíticos J e K vão a quase 13% e os muçulmanos/africanos
representam 6,4%.
No
próximo
post
vamos ver a composição do povo português no que respeita ao ADN
autossómico.